Apresentando
Vinícius Gritante
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Para quem está te conhecendo agora ou até mesmo para quem não te conhece tanto ainda, quem é o Vinícius e por que Gritante?

Pra quem não me conhece, e pra quem me conhece também: oi, prazer, eu sou Vinícius Gritante, eu sou um criador de histórias acima de tudo, eu sou roteirista, escritor, ator, compositor e também canto.

E por que Gritante, Vinícius Gritante? O meu sobrenome veio do livro da Clarice Lispector que chama Objeto Gritante, em que em um certo momento do livro ela fala: “O mecanicismo exige e exige a minha vida, mas eu não obedeço totalmente. Se eu tenho que ser um objeto, que seja um objeto que grita”. E ser artista é exatamente isso na minha percepção, ainda mais na minha criação, em que eu não tive tanto apoio a fazer arte quando eu era mais novo, e o que muita gente também, o que acontece com muita gente, e quando você cresce sendo artista e você não tem muitos recursos, você não tem muito apoio, e as pessoas querem que você siga um tal caminho e que você acabe sendo um objeto ou um produto, que pelo menos você seja um objeto que grita. E o meu nome combina muito comigo agora que eu estou fazendo rock, porque eu sou gritante, eu gosto de gritar e falar dos meus sentimentos assim a flor da pele, de uma forma bem barulhenta. Então é isso, prazer, Vinícius Gritante.

Nas redes sociais fica claro que você é apaixonado por escrever e atuar, mas de onde veio o desejo de gravar músicas?

Na verdade, tudo que eu faço hoje nasceu na composição. Eu comecei a compor com os meus 14, 15 anos lá em 2017, foi quando eu percebi que eu gostava um pouco mais de música e um pouco mais de atuação e que talvez era isso que eu queria fazer para a minha vida. E eu também tava tendo minhas primeiras desilusões amorosas e eu não sabia como desabafar, então eu acabava escrevendo isso. Eu também gostava muito de inventar historinhas, de me imaginar com as pessoas que eu gostava, escrever situações românticas, inventar términos e depois sofrer os términos e escrever isso de forma rimada e acabou nascendo as minhas primeiras músicas. Com o tempo, eu comecei a estudar atuação, comecei a estudar roteiro, me desenvolver na composição e ver que tudo nasceu aí, nessa época.

Quais foram seus maiores desafios para produzir o EP?

Capa do EP nem tão pronto pra te amar assim. Divulgação.

Na verdade, o EP “nem tão pronto pra te amar assim.” foi muito leve e confortável de fazer porque a priori não era pra ser um EP. Eu tava gravando algumas demos de algumas letras que eu tinha escrito recentemente e quando fui parar pra ouvir em ordem, eu percebi que seguia uma linha de raciocínio que contava uma história e aí me veio a ideia de fazer um trabalho fechado. De início eram 8 músicas, eu acabei selecionando 4 pra lançar agora e mais pra frente lançar o álbum completo com as 8 músicas, mas desde já dá pra entender a história que eu quero contar de um meio amor, como eu gosto de chamar.


No EP, em várias faixas, você menciona o nome Matheus, e como ouvinte acabo assumindo que todas as músicas do trabalho sejam sobre algo dele. E depois que li sua crônica “talvez eu nem te ame…tanto assim.” fiquei com uma dúvida: se mesmo colocando tantos sentimentos nas letras você não se apaixonou pelo Matheus, o que é se apaixonar de verdade?

Olha, uma coisa que eu tenho que agradecer ao Matheus foi porque ele me abriu os olhos pra parar pra pensar na forma que eu me relaciono e nos meus antigos relacionamentos, até chegar à terrível conclusão que talvez eu realmente nunca tenha me apaixonado por alguém justamente por, desculpa o pleonasmo, não me apaixonar por alguém. Eu acho que estar apaixonado vai muito além do afeto que tu recebe, do apoio que tu recebe e de quão confortável é estar com aquela pessoa, mas se apaixonar por alguém, pra mim, é quando você encontra uma pessoa que te enche os olhos, que você verdadeiramente admira, que você verdadeiramente sente orgulho, que você torce pra aquela pessoa ter um futuro e que você torce praquela pessoa ter um futuro com você, porque não faz sentido vocês não ficarem juntos. Eu acho que isso é se apaixonar pra mim.

O EP é barulhento, tem um quê de bagunça (no bom sentido) e você jorra um monte de sentimentos e pensamentos muito literais e outros com tom de humor. Muito da sonoridade lembra algo do pop e rock brasileiro dos anos 2000 tipo Pitty, CPM 22 e outros artistas das trilhas sonoras de Malhação. Quais foram suas inspirações para a produção de fato?

As minhas inspirações realmente foram o rock brasileiro dos anos 2000 e também a cena emo do início dos anos 2010. Enquanto eu fazia as músicas, eu tava ouvindo muito Pitty, Charlie Brown Jr., Fresno… eu não vou negar que eu na minha fase emo no auge dos 21 anos. E o que mais me atrai, na cena emo, por exemplo, é que a gente pode usar um instrumental caótico, bagunçado e raivoso e junto com as letras melancólicas, machucadas… quase que depressivas… e fica essa confusão, que eu sinto que é como funciona a minha cabeça em várias situações, incluindo um término de relacionamento, por exemplo, quando você termina e você não sabe se você fica com raiva, se você fica triste, se você diz que vai se matar, ou se você bebe uma garrafa de vinho inteira, então foi essa cena que eu decidi me apoiar e foi nessa sonoridade que eu decidi trabalhar em cima, por ser um local que eu me identifico muito e que eu me sinto confortável e me vejo trabalhando.

Como funciona seu processo criativo para escrever música? Tem diferenças para quando você escreve textos seja para crônicas ou teatro?

Não tem como não citar aqui a minha principal inspiração artística que é a Manu Gavassi. Para mim ela é uma mindmaster na hora de criar histórias e não só isso, colocá-las em prática. A gente viu que ela fez no BBB, que foi genial. A gente viu que ela fez após o BBB, ela escreveu um álbum sozinha. Ela escreveu um álbum visual sozinha, além de protagonizar e dirigir ele. Recentemente ela fez quatro curtas metragens, falando sobre pautas importantíssimas que não eram tão levadas a sério antes. E tudo isso porque ela acredita muito na narrativa dela. Ela é roteirista, ela é diretora, ela é atriz, ela também faz música. E eu, assim como ela, talvez eu não precise fazer de tudo um pouco. Mas o pouco que eu sei fazer eu posso transformar isso em muito. Então ela me inspira muito nesse ponto de acreditar no que eu faço, de acreditar no que eu sinto, de não ter medo de não ser levado por números, por críticas… por engajamento. Ser artista é muito difícil. Mas é mais difícil ainda não ser artista. E é isso.

CIANETO, curta-metragem escrito e protagonizado por Vinícius Gritante. Divulgação.

Olha que coincidência, eu tava conversando com meu terapeuta sobre isso algumas semanas atrás, porque eu percebi que cada coisinha que eu faço vem de um lugar diferente de mim. Por exemplo, as minhas músicas é onde eu vomito as minhas fragilidades, e talvez seja por isso que eu tenho tanto medo de lançar música, porque tem que ter muita coragem de tu jogar pro mundo uma parte tão acessível e tão pessoal tua. Enquanto, por exemplo, os textos e roteiros que eu escrevo é 100% mais racional, não importa do que eu esteja falando. Por exemplo, no meu curta-metragem Cianeto, eu falo sobre o luto de uma forma tão calculada e tão leve, tipo um passeio de tarde e de domingo, que tu acaba se tocando muito mais na cabeça do que levando isso tanto pro emocional, sabe? Quando eu trabalhando com o cinema ou trabalhando com a escrita de forma propriamente dita, eu gosto quando as pessoas se identificam com o que eu escrevo e se sentem tocados, e não só porque aquilo fez elas chorarem, por exemplo, mas porque fez elas pensarem. Eu acho que isso que é o mais bacana.

Eu simplesmente adorei quando você canta “soca tudo na minha boca / não tem problema se der dor de dente”. Qual letra/trecho favorito que você escreveu para o EP?

(Risos). Ai que bom! Que bom que você gostou porque olha que loucura! As “virgens suicidas.” é uma demo, é uma música que eu gravei uma vez e da forma que eu gravei ficou e foi lançada. E eu até pensei em regravar essa música e dar uma reescrevida em algumas partes e essa parte do “soca tudo na minha boca, não tem problema se der dor de dente” foi uma frase que eu queria mudar para regravar mas eu achei que foi tão espontânea e tão excêntrica que eu acabei nem mudando nem regravando e assim ficou e assim foi lançada.

Outras frases que eu gosto muito na faixa “um ao outro.”, por exemplo, que são “namoro adolescente é um pesadelo quanto eu tenho que fumar pra culpa sair do meu peito” e lá no finalzinho quando eu digo “será que a gente nunca supera o primeiro amor?”. Gente, que atire a primeira pedra quem não ficou traumatizado com o primeiro relacionamento. Eu estarei guardando minha pedrinha para mim, pois fui muito que perturbado. Eu acho que namoro na adolescência ou é 8 ou 80, ou dá muito certo você se casa e passa o resto da vida com essa pessoa ou que remoí essa relação para o resto da sua vida, que eu acho que vai acontecer comigo. São frases que eu gosto muito.

Vinícius Gritante. Divulgação.

O que você tem ouvido ultimamente?

Olha, como eu disse, eu bem na minha fasezinha emo, né? Então eu tenho ouvido muito Fresno, tenho ouvido muito rock brasileiro como Pitty, Charlie Brown Jr., a Mayra, que ela deve ter no mínimo uns 10 anos de carreira, mas ela tá começando a fazer rock agora, e diga-se de passagem que ela tá fazendo rock excelentissimamente bem. A mulher é foda, eu tenho ela assim como figura materna, ela é uma puta compositora, ela é uma puta cantora, e ela é uma grande aposta minha, assim, sabe, pra se destacar nessa cena muito em breve, eu tenho certeza. Eu também não abandonei as minhas raízes do que eu cresci ouvindo, que foi pop norte-americano, eu tenho ouvido muito Chrissy Chlapecka, Ariana Grande, Ayesha Erotica, Tinashe, a minha playlist é bem bagunçadinha, como diria a Pabllo Vittar, “eu sou bem epilética”.

Para você, qual o melhor álbum do ano até agora?

Nossa, o melhor álbum do ano… Isso é muita responsabilidade de responder, mas um álbum que foi lançado esse ano e que, sendo sincero, eu não achei que eu fosse gostar, mas eu tenho ouvido ele no repeat, é o Eternal Sunshine, da Ariana Grande. Meu Deus, que álbum lindo! Eu fui assistir o clipe de We Can’t Be Friends e eu chorei, gente! Meu Deus! Gostei muito. Foi um álbum, assim, chocante, verdadeiro e muito bem feito. Olha, muito lindo! A Ariana tá bem de parabéns com ele. Adorei!

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#Alt-Pop #Alternative #Rock
Publicado por Gabriel Borges em 26/04/2024

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